Mulheres empreendedoras
Por Gabi Monteiro

7 minutos de leitura

Determinar mérito profissional baseado em gênero é tão eficaz quanto iluminar uma casa a luz de velas. Funciona por pouco tempo, com muita pouca potência e, vamos combinar, já deveria estar no passado. A verdade é que ambos os “lados” saem perdendo: as mulheres em decorrência de um patriarcado ridículo, os homens por manterem um modelo de negócios arcaico e travado, e a economia – principal vítima – que poderia se desenvolver muito mais e acaba estagnada.

O caso é que as mulheres estão ganhando seu lugar ao sol, doa a quem doer. Uma pesquisa realizada em 2013 pela Sebrae revelou que, num período de 10 anos, elas cresceram 21,4% no mercado, em comparação aos 9,8% dos homens no mesmo período. Isso tratando-se apenas de micro e média empresas.

Mudanças estão acontecendo, e para o melhor. Mas infelizmente ainda estamos bem longe de uma utopia. Mas bem longe mesmo. Homens continuam ganhando em média 17% a mais do que mulheres no mesmo cargo. Embora essa diferença tenha diminuído 12,1 pontos percentuais entre 1990 e 2014, o caminho ainda é muito longo e cheio de obstáculos. Por exemplo, quando comparamos homens e mulheres de alta instrução, de mesma idade e exercendo os mesmos níveis profissionais, a diferença salarial é de 25,9% em favor dos homens.

Falando nisso, a Revista Claudia e o blog MdeMulher, criaram uma “calculadora salarial”, para que baseado em números já fundados, a mulher descubra o quanto ela ganharia caso fosse homem numa mesma realidade de trabalho. Além de útil, serve como uma denúncia a esse absurdo que ainda é representativo, em pleno 2017.

E a palhaçada não para só no salário, mesmo quando as mulheres superam todas as estatísticas, se deparam com um ambiente de trabalho patriarcal e machista, onde assédios acontecem como se fosse algo natural e favorecimento profissional sem mérito algum é coisa do dia-a-dia.

Enfim, eu poderia discorrer mais sobre o quanto os homens são privilegiados no mercado de trabalho. Mas vou tomar uma abordagem um pouco diferente: gostaria de falar da escapatória.

Empreender

Empreender é se empoderar. Se empoderar do seu futuro, da sua liberdade, da sua qualidade de vida e dos seus ganhos financeiros. Afinal, aquela empresa depende apenas da sua competência. E competência não têm gênero.

Existem muitos cases de sucesso no mundo, vamos falar de alguns deles.

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Cleusa Maria da Silva

A rede de bolos Sodiê, hoje com mais de 200 franquias, também começou da força de um sexo dito frágil. Cleusa Maria da Silva, conta em entrevista ao Estadão que, aos 9 anos, nunca teve uma boneca para brincar pois já estava cortando cana. Quando adulta, separou do marido e cuidou do filho solteira, apenas com sua mãe para ajudar.

Para abrir a primeira loja, que possuía 20 metros quadrados em Salto, interior de São Paulo, Cleusa trabalhava em dois empregos, produzia os bolos de madrugada e os levava a pé até o estabelecimento. Ela conseguiu abrir o micro negócio com ajuda da rescisão de um antigo trabalho, além de uma parcela de investimento do seu irmão. No dia da inauguração, não tinha dinheiro nem mesmo para comprar refrigerante para os convidados.

Apenas 10 anos depois disso que, motivada por um amigo, a empreendedora começou a conhecer o termo “franquia” e estudar o território paulista. Com a ajuda de uma advogada da Associação Brasileira de Franchising (ABF), ela deu entrada nos processos jurídicos e arrumou seu primeiro franqueado. Em menos de dois anos, ela já possuía mais de 50 lojas em São Paulo.

Desde então ela já teve que mudar o nome da marca por problemas judiciais, que antes se chamava sensação e hoje leva a inicial de seus dois filhos, Sophia e Diego. Cleusa faz questão de manter a boa qualidade dos produtos em todas as suas franquias, mas sem subir seus preços, já que sua marca ainda mantém sua principal característica: atender do presidente a empregada. Atualmente a Sodiê já é parceira até mesmo da Nestlé.

Ana Luisa Monteiro Correard e Katherine Pavloski

As jovens Ana Luisa Monteiro Correard e sua sócia Katherine Pavloski começaram seu negócio ainda muito jovens em um nicho muito pouco explorado. Insatisfeita com seu trabalho, Ana que tem apenas 17 anos, resolveu oferecer alguns bicos de manutenção em casas afim de juntar um dinheiro. O retorno econômico e pessoal foi tão maior do que ela esperava que ela resolveu ir afundo. Criaram então o M’Ana – Mulher conserta para mulher, sua atual empresa, que oferece serviços de reparos gerais em casas feitos exclusivamente por mulheres.

O público logo abraçou a ideia. “A empresa ganhou espaço, infelizmente, graças ao machismo. Várias mulheres reclamam de receber cantadas ou se sentirem desconfortáveis no momento que estão sozinhas com um homem estranho dentro de casa”, conta a Ana. Também ganharam pontos por oferecer um serviço tão diferente do resto do mercado, que já as coloca em posição privilegiada perante aos concorrentes.

Mas o sucesso nem sempre foi fácil. Como mulheres, é claro que elas já enfrentaram preconceito durante suas atividades. “Um dia a Katherine foi comprar uma de nossas maiores ferramentas, teve que ouvir do vendedor ‘só te vendo se ver que você consegue segurar!’. Ela saiu da loja e não teve dúvidas: comprou na concorrente! Isso acontece constantemente”, desabafa.

Em um ano de empresa elas já contam com mais de 30 mil curtidas no Facebook, além de já terem expandido o seu escopo de serviços para pintura, hidráulica, elétrica, instalações em geral e drywall. Além disso, elas já oferecem serviços de decoração e arquitetura num geral. E não pretendem parar por aí! As meninas querem também oferecer cursos de capacitação para que suas clientes estejam aptas a consertarem coisas mais simples no seu dia a dia. As funcionárias seguem sendo todas mulheres, fato que as empreendedoras não pretendem mudar.

Renata Vasconcelos

Renata Vasconcelos é outro exemplo de sucesso. Mineira, ela atua no mercado de tecnologia desde 2009, tendo trabalhado em renomadas startups brasileiras, como a Samba Tech. Atualmente ela é CEO da Tysdo – Things You Should So (em sua tradução, “coisas que eu deveria fazer”). A plataforma social, considerada o melhor app na Apple Store em 2014, incentiva as pessoas a viverem novas experiências todos os dias e tem sido constantemente replicada em diversos portais devido ao seu sucesso. Ela também é membra ativa da comunidade local San Pedro Valley e foi finalista na categoria Revelação do 19º Prêmio Claudia. Também tem passagens pela Forbes Brasil, escolhida em sua lista “30 abaixo de 10” de 2015.

Hoje ela faz parte do Global Shapers, uma iniciativa do Fórum Econômico Mundial de jovens líderes de 20 a 30 anos, para a criação de projetos de impacto em suas respectivas comunidades. Um belo de um currículo.

 

Thaís Kuga e Thaís Fontoura

Thaís Kuga e Thaís Fontoura são publicitárias e recentemente começaram a empreender. O case delas é muito interessante justamente pelo fato de ter nascido por causa do machismo cotidiano.

Foi do medo que as mulheres passam em andar sozinhas a noite que nasceu o 3Marias, um aplicativo de carona a pé direcionado exclusivamente ao público feminino. Tecnologia à serviço da sociedade.

Ele funciona basicamente assim: você pede uma carona a pé pelo aplicativo e ele identifica mulheres ao seu redor que também pediram e estão indo para o mesmo lugar. Aí ele abre um chat entre vocês para que vocês possam combinar um local de encontro e irem juntas.

Elas já fizeram um MVP e validaram algumas hipóteses em relação ao modelo de negócios e como o aplicativo deveria funcionar. No momento, o app está em fase de prototipação e irá passar por uma bateria de testes esse mês. Elas planejam fazer o lançamento em breve para algumas áreas de São Paulo, principalmente universidades.

O mais legal disso tudo é que nada sai do bolso da usuária. O aplicativo é de graça e não existem taxas de corrida dentro dele. Inteligente, como deve ser.

Finalmente

Resta esperar que um patriarcado tão estrutural e muitas vezes sutil se desconstrua e abra espaços para um cenário de prosperidade que não vê gênero. Associações renomadas já reconhecem esse movimento. Resta esperar o mesmo da população. A economia, como um todo, é usufruída e movimentada por ambos os sexos, e deve assim permanecer. E crescer. E ser respeitada. E difundida. Direitos iguais para competências iguais.

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